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Kia Soul 1.6 16v – Design arrojado, mas derrapa no quesito de peças e informação técnica


Reparadores comentam sobre os principais aspectos positivos e negativos da reparação do Kia Soul, revelam defeitos crônicos, recorrentes e ainda dão dicas que valem ouro

Por: Tenório Júnior - 28 de março de 2017

Foto 1
Fabricado na Coreia do Sul, o Kia Soul foi lançado no mercado mundial em 2008 no Paris Motor Show, chegou ao Brasil em 2009 e foi comercializado globalmente a partir de 2010. No Brasil o crossover urbano se encontra com motor 1.6 de 128 cv abastecido com etanol e 122 cv com gasolina. Seus principais concorrentes são: Ford EcoSport, o Volkswagen CrossFox, Renault Sandero Stepway e as minivans Honda Fit, Nissan Livina, Fiat Idea Adventure e Doblò.

Foto 2
Numa entrevista publicada no site G1 por Mileni Rios em 24/07/09 (consultada em 13/02/2017 – 22:24), o presidente da Kia Motors do Brasil, José Luiz Gandini diz: “ao desenvolver uma pesquisa de opinião durante o Salão Internacional do Automóvel de 2008 com cerca de 620 entrevistados, já tínhamos plena convicção de que o Kia Soul despertaria muita atenção no mercado brasileiro. O nosso carro teve 97% de aprovação no quesito design”. Realmente esse número é bastante expressivo, porém, resta saber se essa aprovação se confirma no quesito reparação. Por isso, fomos à procura de profissionais, em oficinas independentes, que já tivessem tido experiências com a manutenção desse veículo. Entrevistamos três Reparadores de oficinas distintas, são eles:

Foto 3Renato Kovacsik Carvalho, 37 (foto 3), é técnico e proprietário da “Oficina Mecânica Docar”, que está localizada na Zona Oeste da cidade de São Paulo, bairro Pompéia. Renato começou aos 15 anos trabalhando na oficina do seu pai. Dois anos depois ingressou na faculdade, e sem deixar a mecânica, formou-se em Educação Física, no entanto, nunca exerceu o ofício, porque já havia sido contagiado pelo prazer de consertar carros. “Me especializei fazendo cursos no Senai, assistindo palestras técnicas e praticando na oficina. Há dez anos, meu pai se aposentou e, desde então eu assumi a oficina que atende em média 60 carros por mês”, conta o Reparador.

Foto 4

Joaquim Ferreira Araújo, 43 (foto 4). É técnico e proprietário da “Land Service”. Localizada na zona oeste da cidade de São Paulo, bairro da Lapa, a oficina, apesar de ser multimarcas, especializou-se em Land Rover, Kia e Hyundai, atende em média 100 veículos por mês. Joaquim conheceu a mecânica aos 12 anos de idade quando foi trabalhar numa oficina ao lado de sua casa, onde trabalhou por seis anos. Fez curso de elétrica, de injeção eletrônica, trabalhou em outras oficinas independentes e concessionárias até que em 2012 conseguiu abrir sua própria oficina, onde está até hoje. 

Foto 5

Fábio Augusto da Silva, 42 (foto 5), é técnico e proprietário da oficina All Motors, localizada na Zona Sul da cidade de São Paulo. A história desse Reparador é um pouco diferente, digamos, um caso à parte. 

Fábio começou se atrevendo a consertar os carros do seu pai e aos 18 anos decidiu abrir sua própria oficina. Ao longo do tempo em que a oficina permaneceu aberta, Fabio percebeu que os clientes não davam a ele a credibilidade necessária, devido à pouca idade. Então, depois de um ano e meio, justamente pela dificuldade encontrada diante da percepção dos clientes, achou melhor guardar as ferramentas e fechar a oficina. Foi trabalhar em outra área, mas logo voltou para a reparação automotiva, entrou numa concessionária Mazda do Brasil, onde trabalhou de 1997 a 2000, quando a empresa encerrou as atividades. Então, ele aproveitou a oportunidade e comprou o ferramental da empresa e reabriu sua oficina. “No início eu trabalhava apenas com os veículos da marca Mazda, depois, busquei conhecimento através de manuais técnicos e abri as portas para Hyundai e Kia”, conta o Reparador. A curiosidade é que esse Reparador é um autodidata, ele não fez absolutamente nenhum curso técnico, aprendeu tudo lendo manuais técnicos e praticando. 

Um comentário à parte: considero importante contar um pouco da história desses profissionais porque é uma forma de agradecimento pela colaboração e compartilhamento de valiosas informações, de reconhecimento profissional e pode servir de inspiração para tantas outras pessoas. 

Dito isto, vamos ao dia-a-dia das oficinas independentes para saber como é a manutenção do Kia Soul.

SUSPENSÃO DIANTEIRA E TRASEIRA 
A suspensão dianteira, apesar de muito eficiente, não apresenta nenhuma novidade, utiliza sistema independente tipo McPherson (foto 6), molas helicoidais e barra estabilizadora. Os problemas constatados e relatados pelos Reparadores foram considerados por eles como normais, devido às condições das nossas ruas e tempo de uso. As peças citadas foram: pivôs, bieletas (foto 7), buchas de bandejas (foto 8), terminais de direção e braço axial.

Foto 6, 7 e 8

Na traseira, a simplicidade se repete, apenas um eixo de torção fixado à carroceria por buchas (uma de cada lado) (foto 9), molas helicoidais e os amortecedores (foto 10). Porém, há um defeito crônico constatado algumas vezes pelo técnico Joaquim. Trata-se de uma trinca na estrutura do eixo que causa barulho ao passar em desníveis ou solapamentos. 

Foto 9
Foto 10

DIREÇÃO
O sistema de direção é composto por uma caixa mecânica do tipo pinhão e cremalheira (foto 11) e um motor elétrico que fica localizado na coluna da direção (foto 12). De acordo com os técnicos consultados dois problemas chamam a atenção porque ocorrem com frequência: barulho na caixa de direção e na coluna da direção. Segundo os técnicos Fábio e Joaquim, a folga da caixa de direção se dá pelo desgaste da bucha da cremalheira. No caso da coluna de direção a constatação foi unânime, para os três técnicos, esse defeito é crônico. Trata-se de uma bucha em forma de cruz (foto 13) que quebra e fica fazendo barulho. De acordo com o Joaquim, tanto a bucha da caixa quanto a bucha da coluna são vendidas nas concessionárias.

Foto 11, 12 e 13

Dica do Técnico Renato: para detectar o problema na bucha da coluna basta girar o volante de um lado para o outro com o carro parado, se fizer barulho dentro da coluna é quase certeza de que a bucha está avariada, neste caso, só desmontando para constatar. Atenção! Quando for trocar a bucha, desligue a bateria, deixe as rodas alinhadas e depois do reparo executado, fazer o ajuste via scanner automotivo.

FREIOS   
Equipado com pastilhas na dianteira (foto 14) e sapatas na traseira (foto 15), o freio conta com o auxílio do sistema ABS (Anti-lock Breaking System ou sistema de freio antitravamento). Esse sistema impede o travamento das rodas durante frenagens bruscas, independentemente do tipo e estado do piso, permitindo ao condutor controlar a direção do veículo durante a frenagem. O sistema é composto por uma central eletro-hidráulica (foto 16) e sensores que verificam a velocidade de cada roda, tanto na dianteira (foto 17) quanto na traseira (foto 18). No caso de avaria em alguma peça do sistema, a luz do ABS acende no painel e automaticamente o sistema deixa de atuar. Entretanto, o sistema de freio convencional do carro continua funcionando de forma inalterada. Sendo assim, vale ressaltar a importância da manutenção corretiva e preventiva para garantir a total eficiência do sistema. 

Foto 14 
Foto 15
Foto 16
Foto 17
Foto 18
 

Dica do consultor OB Tenório Junior – sempre que efetuar a troca das pastilhas, verifique as sapatas, cilindros de rodas e tambores de freio traseiro. Se não for constatado nenhum problema, faça a limpeza básica do sistema e a regulagem manual das sapatas. A inoperância do sistema automático de regulagem é muito comum nestes sistemas, e se as sapatas estiverem longe dos tambores, ou seja, desreguladas, haverá ineficiência do freio traseiro, sobrecarga nas pastilhas e aumento da distância de frenagem. 

De acordo com o Reparador Fábio, o problema mais comum constatado por ele em sua oficina é um ruído do tipo “chiado” quando acionados os freios. “Na maioria das vezes o ruído é causado por pastilhas de má qualidade. Quando chega aqui com esse barulho eu substituo as peças por outras originais e o barulho acaba”, afirma o técnico.

O Reparador Joaquim alerta sobre um barulho quando passa em pisos irregulares. “Já pegamos alguns casos em que os pinos da pinça estavam gastos a ponto de gerar folga e consequentemente barulho. Para resolver o problema, em alguns casos é só substituir os pinos que são comercializados pelas concessionárias; em outros casos, quando a pinça está desgastada, só embuchando mesmo”, orienta o Reparador. Segundo ele, esse problema é mais frequente nos primeiros veículos fabricados, cerca de 90% apresentam o barulho, nos modelos mais novos não acontece. 

SISTEMA DE INJEÇÃO ELETRÔNICA/IGNIÇÃO
O problema comum encontrado pelos técnicos foi a queima da bobina de ignição (foto 19). Segundo Fábio, veículos com apenas 30 mil km rodados já apresentam esse defeito. Para o técnico Joaquim a queima da bobina ocorre principalmente pela falta de manutenção. “As velas desgastadas forçam a bobina até que ela queima”, diz o Reparador.

Foto 19
Essa questão da quantidade de quilômetros rodados é delicada e deve ser estudada caso a caso. Para os veículos que circulam em trânsito livre até dá para confiar no número que mostra o hodômetro, em contrapartida, aqueles que circulam a maior parte do tempo em trânsito intenso, como na cidade de São Paulo, a conta deveria ser em horas. Porque nestes casos, para percorrer 25 km no trânsito intenso o motor fica ligado por pelo menos uma hora e meia, o que não condiz com a quantidade de quilômetros registrada pelo hodômetro. Portanto, é importante saber quais são as condições de uso do veículo para fazer a manutenção preventiva de forma personalizada. 

Dica do Fábio – O filtro de combustível do modelo a gasolina (foto 20), fica dentro do tanque junto à bomba de combustível e o regulador de pressão. A maioria dos FILTROS NÃO ORIGINAIS apresenta falta de estanqueidade, ou seja, quando desliga o motor a pressão não se mantém na linha de combustível. Isso dificulta as partidas quando o motor fica por um determinado tempo desligado.

Foto 20
De acordo com o Reparador Fábio, “é fácil de encontrar o filtro na concessionária, porém, o preço é fora da realidade. É possível comprar a mesma peça no mercado independente por um terço do valor”, alerta o técnico.

ARREFECIMENTO 
No sistema de arrefecimento não foi constatado, pelos técnicos entrevistados, nenhum problema recorrente. No entanto, não posso deixar de comentar sobre a importância da substituição preventiva de uma peça que é de suma importância para o ótimo funcionamento do motor, a válvula termostática. Esse pequena peça é uma das responsáveis pelo controle da temperatura do motor, seu funcionamento é bem simples. Motor abaixo de 80°C ela permanece fechada impedindo que o líquido do sistema de arrefecimento circule entre motor e radiador. Acima de 80°C a válvula se abre, permitindo a circulação total do líquido de arrefecimento. Desta forma, após um determinado período (em média 40 mil km), a válvula pode travar fechada ou aberta. Se travar fechada o motor ferve e pode até fundir. Se travar aberta, o motor tende a trabalhar com temperaturas baixas, o que provoca aumento do consumo, da emissão de poluentes e reduz consideravelmente a vida útil do motor. Por isso, antes que isso ocorra, recomenda-se substituir a válvula termostática preventivamente. Na oficina Land Service, visando à manutenção preventiva, a recomendação é substituir a válvula termostática e o líquido de arrefecimento a cada 2 anos.

EMBREAGEM
A substituição da embreagem do Kia Soul (fig.21) é uma tarefa trabalhosa, mas não é difícil. No entanto, para que a nova embreagem funcione perfeitamente é necessário observar alguns detalhes. Dentre eles, atenção especial ao tubo guia do rolamento de embreagem que, ao contrário da maioria dos carros com câmbio manual, é parte integrante da carcaça do câmbio (fig.22). Ou seja, se estiver desgastado a ponto de comprometer o movimento do rolamento, a carcaça do câmbio deverá ser substituída. 

Foto 21
Foto 22
As demais peças que podem comprometer a eficiência da e durabilidade da embreagem são: garfo do rolamento (foto 23); volante do motor; atuador hidráulico do câmbio (foto 24); atuador hidráulico do pedal (foto 25) e fluido da embreagem.

Foto 23 
Foto 24
Foto 25

Dica do Consultor OB Tenório Junior – se a embreagem estiver muito baixa, verifique se há folga no pedal de embreagem. O furo da haste do cilindro hidráulico do pedal costuma apresentar desgaste (fig.26).

Foto 26
REPARABILIDADE
A reparabilidade diz respeito ao grau de dificuldade encontrado pelos Reparadores para executar as manutenções. Para essa avaliação são considerados, o espaço, a localização das peças e a necessidade de ferramental específico para executar a maioria dos trabalhos corriqueiros. De acordo com a avaliação dos técnicos consultados o Kia Soul tem boa reparabilidade. 

PEÇAS
O quesito “peças” é de extrema relevância numa avaliação desse nível, pois o resultado final de uma determinada manutenção, tanto na questão de tempo para execução dos serviços, quanto na qualidade e confiabilidade, depende muito das peças. Questionados sobre essa questão, os entrevistados responderam: 

Renato – “Na maioria das vezes que precisei foram peças comuns de grande giro e não tive dificuldade para encontrá-las na concessionária.”

Joaquim – “As peças comuns são fáceis de serem encontradas nas concessionárias, mas se precisar de uma bobina ou bico injetor, só fazendo encomenda e esperando uma semana para que a peça chegue à concessionária.”

Fábio – “Primeiro, procuramos na concessionária, mas não é fácil encontrar, muitas vezes é preciso esperar de cinco a dez dias para que a peça chegue na concessionária. A segunda alternativa é o mercado independente, que na maioria das vezes só tem as peças de maior giro, como velas, filtros, pastilhas, etc., o problema é que a qualidade dessas peças é no mínimo duvidosa.”

INFORMAÇÃO TÉCNICA
Num passado não tão distante, a falta da informação técnica era facilmente suprida pela experiência. Hoje, o exponencial avanço tecnológico torna a informação técnica uma ferramenta fundamental para a reparação dos veículos. Vejamos como é para os Reparadores entrevistados o acesso à informação quando se trata dos veículos da Kia Motors.

O técnico Renato comprou um software de uma empresa especializada que disponibiliza algumas informações para o veículo avaliado nesta matéria. Quando não encontra no programa, o Reparador recorre à internet.

O Reparador Fábio diz: “não consigo informação técnica na concessionária. A Kia não oferece nenhum tipo de suporte ao Reparador independente. Eu compro literatura técnica no exterior e preciso atualizar anualmente”.

Já o Reparador Joaquim diz não encontrar dificuldade porque tem conhecimento dentro da concessionária. “Sempre que preciso, recorro aos amigos para obter as informações necessárias”, diz o técnico.

RECOMENDAÇÃO
É muito comum o cliente perguntar ao seu Reparador de confiança sua opinião sobre determinados carros. Devido à confiança adquirida, na maioria das vezes, aquilo que o profissional diz é fator decisivo para a compra ou não do carro. Após todas essas informações transmitidas com muita propriedade pelos profissionais entrevistados, vamos ver o que eles recomendam.

Renato – Sim! Eu recomendo, desde que seja feita a manutenção periódica e preventiva para evitar surpresas desagradáveis, o carro é muito bom! A ressalva que não posso deixar de fazer é que as peças são relativamente mais caras e algumas delas são difíceis de serem encontradas nas concessionárias.

Fábio – Sim! É um carro muito bom para reparar e para andar, é gostoso de guiar. Apesar da dificuldade de encontrar certas peças, eu não faço ressalva porque me especializei na marca e o tempo que eu demoro pra conseguir as peças, na maioria das vezes, é menor do que aquele que a concessionária pede. Tenho muitos contatos e possuo estoque. 

Joaquim – Sim! Eu recomendo porque é um carro muito bom para reparar. Apesar da questão das peças, o custo-benefício é bom. A ressalva sobre esse carro é o preço de revenda, que é muito baixo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com os relatos dos experientes Reparadores que gentilmente nos concederam essas entrevistas, podemos constatar que no pátio da oficina o Kia Soul tem certa equivalência nos pontos positivos e nos pontos negativos, dentre eles os mais relevantes foram:

Reparabilidade - O quesito reparabilidade foi exaltado pelos técnicos, que disseram ser muito bom. Essa avaliação é ótima porque parte do pressuposto que, se o carro oferece boas condições para efetuar os reparos, o custo da mão de obra não é tão caro, comparado àqueles que não tem espaço físico para trabalhar, necessita muitas ferramentas específicas, etc.

Peças - Na contramão do quesito anterior, nos deparamos com a dificuldade encontrada pelos Reparadores para encontrar peças genuínas ou originais, com preço acessível e à pronta entrega. Isso é muito ruim, porque a correria da vida cotidiana não permite perda de tempo, tanto para o cliente que depende muito do carro para cumprir seus horários, quanto para a oficina que não pode ficar com o carro parado no box esperando uma peça que pode demorar até uma semana.

Defeitos crônicos - Folga na bucha da caixa de direção, barulho na coluna da direção e problemas no eixo traseiro são defeitos apontados pelos técnicos e classificados como crônicos. Esse feedback é relevante no sentido da informação a todos que possam interessar.

Informação técnica - Esse tópico é sem dúvida um dos maiores entraves que nós, reparadores independentes, enfrentamos na hora de reparar um veículo. Diante da realidade desse mercado globalizado, não faz sentido a retenção da informação técnica, muito pelo contrário, aqueles que disponibilizam a informação estão sempre em vantagem frente aos que mantêm a informação a sete chaves.

Foto 30