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J3 1.4 16V você irá se surpreender: conheça a mecânica desse hatch e a opinião dos reparadores


Apesar de ser relativamente nova no Brasil, a JAC Motors existe desde 1964, está presente em mais de 100 países, é a maior produtora de chassis de ônibus e de veículos comerciais leves da China e líder na fabricação de carros para exportação

Por: Tenório Júnior - 19 de fevereiro de 2016

A JAC Motors chegou no Brasil com certa dose de ousadia, no dia 18 de março de 2011 Inaugurou simultaneamente 50 concessionárias, alcançando assim, 1% de participação das vendas globais no mercado, logo nos primeiros meses de atuação.

Para desvendar os possíveis segredos dessa grande empresa e descobrir se há fundamentos quanto às críticas que se houve por aí sobre os veículos chineses, levamos o modelo J3 1.4 16v. ano 2013, que já rodou 105.000 km, para uma avaliação técnica e também consultamos reparadores que já tiveram a oportunidade de realizar manutenções  no específico modelo.

De início, o que chama a atenção é a nomenclatura “1.4”, porque o motor possui apenas 1.332 cm³, não deveria ser chamado de 1.3?  Deixemos de lado a denominação e partimos para o teste prático de rodagem. Veja a seguir, quais foram as nossas impressões, após andarmos com o carro: 

Com 1.332 cm³, quatro válvulas por cilindro e comando de válvulas variável (VVT), esse propulsor atinge 108 cv de potência aos 6.000 rpm. Contudo, nas saídas e retomadas deixa a desejar; só é possível sentir o torque a partir dos 3.500 rpm, isso se o ar-condicionado estiver desligado, porque se estiver ligado a rotação deverá ser ainda maior, a partir dos 4.000 rpm. Essa característica não é muito legal para o uso urbano, em que se tem pouco espaço para desenvolver a velocidade desejada num curto espaço de tempo, como numa ultrapassagem por exemplo. Já na estrada, onde dá para elevar bem a rotação, o comportamento é bem satisfatório.

Quanto à estabilidade na reta e nas curvas, ele realmente surpreende. O conjunto de suspensão, que é independente nas quatro rodas, com barra estabilizadora na dianteira, multibraços na traseira, roda de aro 17 e pneus 185, promove uma dirigibilidade acima do esperado - considerando o porte do carro.

No quesito “opcionais” o J3 ganha mais um ponto positivo, pois não tem opcionais, são todos itens de série. Freios ABS com EBD, airbag duplo frontal, direção hidráulica, vidros, travas e retrovisores elétricos, faróis de neblina, regulagem elétrica dos faróis, sensor de ré e temporizador do para-brisa com níveis diferentes de tempo fazem parte de um pacote de itens de série que trazem grande conforto, segurança e faz grande diferença na hora da escolha de um carro.

Como se pode perceber, até aqui, não encontramos nada que pudesse depreciar ou desmerecer esse surpreendente Hatch de quatro portas. 

Agora que já apresentamos uma visão básica das principais características técnicas, vamos nos aprofundar um pouco mais nas questões relacionadas à reparabilidade. Para isso, fomos a campo procurar quem entende do assunto, os reparadores independentes.

Essa não foi uma tarefa fácil, pois, poucos reparadores consultados tiveram experiência suficiente com esse veículo para fornecer dados substanciais acerca da manutenção do modelo J3, seja corretiva ou preventiva. Em algumas, só foram constatadas registros desse veículo para reparos simples e corriqueiros, como troca de óleo, filtros, pastilhas e discos; contudo, esses reparos não são suficientes para fazer uma avaliação detalhada e consistente. Por essa razão, nós também fizemos uma análise técnica visual, numa oficina qualificada pelo nosso Guia de Oficinas, a JR Mecânica Automotiva (foto 2) que tem como técnico responsável, eu, José Tenório da Silva Junior (foto 3), 43 anos de idade e 25 de experiência no ramo, Bacharel em Administração de empresas, palestrante, professor de mecânica básica automotiva e consultor técnico do jornal Oficina Brasil.

Para tanto, utilizamos uma unidade que foi gentilmente disponibilizada pela própria montadora JAC Motors, exclusivamente para esse fim. Aliás, vale ressaltar que essa atitude já nos causa uma impressão muito positiva da marca.

Nessa avaliação foram analisados os seguintes itens: reparabilidade, dirigibilidade, grau de dificuldade para encontrar peças e preço, tanto da concessionária quanto do mercado independente. 

Para complementar e enriquecer a matéria, contamos com a colaboração de outras duas oficinas. Encontramos no bairro Tucuruvi – Zona Oeste da cidade de São Paulo, uma oficina que já tem boa experiência com o modelo avaliado, é o Centro Automotivo Nova Aparecida. Rafael Toledo (foto 1) é o proprietário, administrador da oficina e técnico responsável. Ele tem 32 anos de idade e 16 de experiência no ramo. Rafael nos conta que iniciou em uma concessionária da VW aos 16 anos de idade como ajudante, um ano depois, foi promovido para mecânico de linha e após 2 anos, se desligou da empresa e foi trabalhar num Centro Automotivo, onde adquiriu conhecimento e desenvolveu habilidades com veículos multimarcas. “Com o passar do tempo fui comprando minhas ferramentas, pois já havia a intenção de montar meu próprio Centro Automotivo. Então, ingressei na faculdade de administração de empresas e me formei com louvor no ano de 2011, em 2012 montei meu Centro Automotivo”, relata orgulhoso, Rafael e completa: “hoje atendemos uma média de 70 a 80 veículos por mês”.

Em outro ponto da mesma cidade, localizada no bairro Morumbi, está a Morumbi Car Center. O técnico que nos concedeu a entrevista é o proprietário da oficina, Aguinaldo Vaz de Lima (foto 4), 44 anos de idade e 26 de experiência no ramo. Aguinaldo começou como recepcionista numa grande revenda da Varga em Jundiaí – SP.  “Fui me aprimorando através de cursos até que fui promovido a chefe de pátio e depois Gerente”. Em 2011 o patrão decidiu vender as lojas e Aguinaldo não deixou a oportunidade ir embora, comprou aquela que foi primeira das sete unidades da franquia. Atualmente a Morumbi Car Center, atende cerca de 275 veículos multimarcas por mês. 

SUSPENSÃO DIANTEIRA

A suspensão dianteira é do tipo Mc Pherson, com bandejas e barra estabilizadora, muito eficiente e nada fora do comum.

Segundo o técnico Rafael, há um defeito recorrente nesse veículo, “as buchas da barra estabilizadora apresentam um rangido que só se resolve com a substituição das mesmas e precisam ser originais” orienta o técnico e acrescenta: “mesmo assim, a durabilidade delas é de 6 a 8 meses”. Outras peças que sofrem desgaste com certa frequência, são os pivôs e bieletas, que segundo o técnico é possível encontrar no mercado independente com marcas de qualidade razoável. 

Tenório Junior: “muito bem construída e de fácil manuseio para os devidos reparos. Porém, se for necessário substituir as buchas (foto 5) ou pivô (foto 6), tem duas opções: peças paralelas com qualidade duvidosa e durabilidade curta ou encomendar um bandeja completa na concessionária, porque não há disponível e não vende as peças separadas”. (foto 7)

SUSPENSÃO TRASEIRA

A suspensão traseira é simples, possui amortecedor estruturado com mola helicoidal (foto 8) de ótima reparabilidade e muito eficiente. O sistema multilink (foto 9) proporciona maior conforto e mantém as rodas grudadas no chão. 

Os técnicos Rafael e Aguinaldo não tiveram nenhuma ocorrência de defeitos ou reparos nesse item.

FREIOS

O J3 possui um sistema que evita o travamento das rodas durante uma frenagem brusca, o ABS (Anti-lock Braking Sustem), que não é novidade para os reparadores, mas o que chama a atenção num carro desse porte é o EBD (Eletronic Brake Force Distribuition), trata-se de um sistema que distribui eletronicamente a força de frenagem nos eixos dianteiros e traseiros, promovendo frenagens seguras e precisas. 

A localização da central eletro-hidráulica do sistema ABS (foto 10) está muito bem localizada, logo abaixo do cilindro mestre (foto 11), ambos de fácil acesso.

Para o técnico Rafael, o sistema com discos ventilados e pastilhas na dianteira (foto 12), tambor e sapatas na traseira, é de fácil manuseio. Os sensores de rotação na roda dianteira (foto 13) e traseira (foto 15) são de fácil acesso.

O reparador Aguinaldo relata um caso inusitado: “tivemos um problema grave. A cliente simplesmente freou o carro numa manobra de emergência e a haste do servofreio empenou, deixando o pedal baixo. Detalhe: o veículo tinha apenas 7.000 km rodados”, conta o técnico. Nesse caso, o carro foi direcionado à concessionária porque estava em garantia. 

Tenório Junior: “sistema simples, eficiente e de fácil manuseio. As pastilhas e discos são encontrados de marcas confiáveis e com facilidade nas autopeças. Já as sapatas, cilindros de rodas (foto 14) e tambores não são encontradas com facilidade e só tem de marcas cuja qualidade é desconhecida. Recorrendo à concessionária constatei que os preços, principalmente das sapatas de freio, são fora da realidade para um veículo desse porte”. 

MOTOR INJEÇÃO ELETRÔNICA

O sistema adotado pela Jac Motors no modelo J3 é produzido pela Delphi. O que chama a atenção é a localização dos bicos, corpo TBI, sensores, atuadores, velas e bobinas, todos são de fácil acesso – fator relevante e positivo no quesito reparabilidade. (fotos 16, 17 e 18)

O técnico Rafael diz que não encontrou nenhum defeito fora do normal ou recorrente, “apenas manutenção básica como limpeza nos componentes, que deve ocorrer em uma média de 15.000 a 20.000 km rodados”, diz o técnico.

Na Morumbi Car Center, não há histórico de defeitos de injeção.

ARREFECIMENTO

Aqui encontramos um defeito recorrente. Segundo Rafael, “vazamento pelas conexões das mangueiras é muito comum mas, a solução é simples, basta trocar as abraçadeiras originais que são de pressão, por outras que têm parafuso para apertar”.

REVISÕES BÁSICAS E PERIÓDICAS

Segundo Rafael, “a maioria dos itens de revisão requerem manutenção a cada 10.000km rodados com exceção do óleo do motor, que apesar de ser um 15w40 semi-sintético, o fabricante pede que seja trocado a cada 5.000km”. 

CÂMBIO

Os reparadores consultados não relataram nenhum tipo de defeito que tenham constatado no câmbio. 

De acordo com o Reparador Rafael, a troca do óleo deve ocorrer a cada 20.000 km. “O óleo indicado pelo fabricante é o SAE 80W/90 GL4”, diz com propriedade o técnico Rafael.

REPARABILIDADE

Nesse quesito, a JAC Motors parece estar “correndo por fora”, é realmente surpreendente! Mesmo com um motor de 16 válvulas, ar-condicionado e direção hidráulica, o espaço no compartimento do motor é muito bom e a disposição das peças é excelente. Há espaço suficiente para executar os reparos mais comuns, com muita facilidade. 

No conjunto, suspensão, direção e freios, também não há a mínima dificuldade para executar os reparos. 

PEÇAS

Sem dúvida, eis aqui o maior problema do veículo / marca, relatado pelos reparadores e constatado por mim.

O reparador Rafael diz que a aquisição de peças na concessionária é de 70% e 30% no mercado independente. Segundo ele, além da falta de peças e o tempo de espera para as peças que não estão disponíveis no estoque, que é de dez dias, tem o preço, que muitas vezes não se encaixa no orçamento do cliente. 

O técnico Aguinaldo compra apenas 5% das peças para o J3 na concessionária e 95 % nas autopeças independentes. E os motivos são exatamente os mesmos do Rafael, preço, falta de peças e tempo de espera para peças encomendadas. 

Tenório Junior: “Numa simulação, fiz orçamentos das peças que sofrem desgaste natural pelo uso normal do veículo e são corriqueiras no dia-a-dia das oficinas, como freios e suspensão; notei grande dificuldade para encontrar as peças no mercado independente. Na maioria das autopeças que estou acostumado a comprar peças para todos os marcas e modelos de veículos, não encontrei algumas peças, como sapatas, tambores, cilindros de rodas e buchas de bandejas e bieletas que fossem de marcas confiáveis e reconhecidas por nós, reparadores. 

Recorrendo à concessionária constatei que os preços são fora da realidade para um veículo desse porte, e a falta de peças no estoque é grande. Para a maioria das peças consultadas o tempo de espera era de cinco a dez dias”.

No caso das buchas de bandejas e pivôs, apesar de parecerem bem resistentes, não ficarão ilesas por tanto tempo com o veículo trafegando em nossas ruas esburacadas. Se for necessário trocar um pivô ou uma bucha, a surpresa, não há para reposição - a concessionária só vende a bandeja completa, que custa quase mil reais. 

INFORMAÇÃO TÉCNICA

A questão que envolve a informação técnica é o segundo maior problema que os reparadores encontram para trabalhar com os carros da marca. Os técnicos consultados informam que através da concessionária não conseguem obter informações técnicas. Ambos dizem que quando precisam de informações técnicas recorrem ao Sindirepa, colegas, fabricante de autopeças (quando esse fabrica a peça em questão) e na internet. 

Rafael dá uma dica aos reparadores: “quando aparecer um carro desse tipo, utilize sua experiência para tentar entender o funcionamento dos sistemas a fim de buscar as melhores alternativas para o devido reparo”, orienta o experiente reparador.

INDICA OU NÃO INDICA?

Rafael: Sim. Pela tecnologia que o veículo possui, pelo preço do seguro que é razoável. Porém, há os pontos negativos: o preço e a disponibilidade de peças na concessionária deixam a desejar; além disso, há de se considerar que esse veículo deprecia muito. “Eu passo os prós e os contras, isso todo veículo tem”, diz o técnico.

Aguinaldo: Não. Devido à fragilidade dos itens de segurança, como a haste do pedal de freio, que empenou aos 7.000 km. 

Tenório Junior: Sim. Porque estou analisando a reparabilidade e a parte técnica, nisso o carro é show! Porém, gosto de deixar o cliente ciente de que as peças genuínas têm preço fora do aceitável, que não são encontradas no mercado independente e que as peças paralelas, em sua maioria, são de origem e qualidade duvidosa. Se for o caso de encomendar as peças originais, a espera é longa. 

CONCLUSÃO

Há tempos, foi criado um “conceito” negativo sobre os produtos chineses (não vamos entrar no mérito do fundamento desse conceito). A fama era de que não prestavam, que quebravam com facilidade, etc. Daí, antes mesmo de conhecer um determinado produto, já o avaliamos de acordo com o conceito que temos acerca da origem dele, no nosso caso, os carros produzidos por um fabricante da China a JAC Motors. Surge então, o “pré-conceito”. 

No entanto, de acordo com os relatos dos reparadores e nossos testes com o veículo, constatamos que no caso do veículo J3 produzido pela referida marca, esse conceito prematuro não se confirma, pelo contrário, há qualidades técnicas e funcionais de sobra para um veículo desse porte.  A reparabilidade, o conforto, a segurança, o desempenho e a dirigibilidade são atributos que merecem o nosso respeito e credibilidade. 

A montadora chinesa mostrou que é possível fabricar um veículo com linhas modernas, completo, funcional, que atende as expectativas e com um preço acessível. Entretanto, apesar de tudo isso, há dois fatores que deixam muito a desejar, peças e informação técnica. A falta de peças nas prateleiras das concessionárias e o alto preço praticado por eles, de certa forma, afastam os reparadores e os obrigam a optarem por peças de reposição com qualidade duvidosa, o que coloca em “cheque” a qualidade dos serviços prestados e, principalmente a segurança dos ocupantes do veículo e de terceiros. Isso porque além de ocupar espaço na oficina, nem sempre o cliente tem a disponibilidade de dinheiro para bancar o alto custo das peças, nem tempo para deixar o carro parado.

O reparador independente, que é um grande formador de opinião, não tem o menor respaldo das concessionárias JAC Motors. Logo, quando um cliente pede sua opinião, porque é o seu mecânico de confiança, por mais que fale bem do carro, sempre irá alertar sobre a falta das peças de reposição e da dificuldade de obter informação técnica para efetuar os eventuais e inevitáveis reparos.

Arrisco-me a dizer que, enquanto a montadora chinesa não se der conta da influência que o reparador independente tem sobre a decisão de compra de um cliente em potencial e de como ele pode ser um aliado, sua imagem continuará sob a luz do pré-conceito. Afinal, os veículos que ostentam sua marca, em algum momento, passarão pelas oficinas desses reparadores. 

Oferecer descontos diferenciados nas peças, manter a maior quantidade de peças possível no estoque e fornecer informação técnica são os meios mais coerentes, fáceis e eficazes de propagar a qualidade da marca junto às quase cem mil oficinas independentes em todo o Brasil.